Ele
estava apressado. Corria e esbarrava nas pessoas para chegar logo; coração disparado, olhar bobo, sorriso
espontâneo. Tendo alcançado a plataforma, tratou de
sentar-se para esperar; já não iria demorar tanto quanto já demorara. Em meio à
espera, por duas ou três vezes verificou a roupa e tocou de leve a cabeça para sentir se
o cabelo ainda estava penteado; sim, estava tudo certo. Dez e cinqüenta e sete, logo iria chegar.
Sua mão já se contraía contra a calça, a garganta estava começando a ficar
seca, olhar apreensivo.
Lá
vinha o trem. Virou-se de uma só vez quando o escutou. O sorriso se abriu; se
pudesse, aumentaria a velocidade daquela Maria fumaça. O zunido metálico o avisava
que o trem estava parando; mesmo sabendo que estava tudo certo, ele ainda checou
a roupa mais uma vez.
As
portas do trem se abriram e ele se levantou. Famílias e passageiros solitários começavam
a sair em direção à plataforma; dentre aquela multidão, ele olhava a todos com
olhar apreensivo, segurava os dedos e inclinava o pescoço para ver melhor. Ele
a avistara. Logo o medo passou, a angústia passou, o sorriso deu lugar à
ansiedade. “Como ela está linda” era só no que ele pensava, e, quando ela o
avistou, foi logo ao seu encontro. Com a bagagem na mão, começou a atravessar a
plataforma, passando no meio de todos. Ele, que mal percebera como, já estava
correndo ao encontro dela também; não enxergava mais ninguém à sua frente.
Encontraram-se,
e um abraço selou a saudade deles, ambos tentando sentir o máximo um do outro.
Ouviu-se
um sino; ela, voltando a si, olhou para o relógio da plataforma. Ele, que
continuava sentindo o momento, olhou para ela e mudou de feição. Ela lhe disse
algo e ele fez que “não” com a cabeça; ele não podia deixar isso acontecer. Ela
o beijara rapidamente, e, pegando sua bagagem, começara a se dirigir para o
outro lado da plataforma; ele a puxou pela mão, e o seu olhar era de desolação.Ela lhe retribuiu o olhar e inclinou a
cabeça de forma suave. Acariciou-lhe o rosto e sussurrou: “Volto logo”. Ele
tocou a sua mão, a levou ao seu rosto e apertou contra a bochecha de leve; se
conseguiu responder, disse: “Você disse isso antes”. Ela deu um sorriso sem
graça, tirou sua mão do rosto dele e se dirigiu à porta de entrada do outro
trem.
A
porta fechou e o trem começou a partir; outras pessoas na plataforma acenavam
para as que estavam no trem. De uma das janelas ela o viu, piscou serenamente e
acenou. Ele assistia a tudo aquilo como a um filme daqueles de cinema,
preto-e-branco e sem som. O trem partira, e, lentamente, todos foram saindo da
plataforma. Ele ainda esperaria o último vagão desaparecer.
Onze
e dez. Não havia mais ninguém senão um rapaz que agora se locomovia para a
saída. Ele viu o último rastro de fumaça do trem desaparecer no céu azul e viu
que não tinha mais o que fazer ali. Já fora da plataforma, pôs as mãos nos
bolsos e sentiu algo na palma e puxou sua mão de volta.
Olhou
a caixinha coberta de veludo azul-marinho. Em meio à emoção do encontro, ele a
havia esquecido. Colocando a caixinha de volta no bolso, pensou consigo mesmo:
“Agora não dá mais tempo; outra vez não deu tempo, mas o que é a espera
comparada a volta?” e foi andando pela rua e lembrando o quanto ela estava
bonita.