Ele acorda. Abre os olhos aos poucos por causa claridade. Boca seca.
Flashes de um sonho. O relógio apita alto. Levanta e vai para o banheiro. Fica
se olhando no espelho como se tivesse mudado algo de ontem para hoje até que
desiste da procura e abre o chuveiro. Desperta a medida que o banho se
prolonga. Enxuga-se. Veste-se. Toma seu achocolatado apressadamente. Busca suas
coisas repetindo mentalmente tudo o que precisa para não se esquecer de nada. Apalpa
os bolsos pelo menos umas seis vezes antes de sair. Sai. Caminha pelas ruas
escutando suas músicas que ele põe em aleatório, mas que passa para suas
favoritas sempre. Viaja em pensamentos que vão do seu futuro perfeito a
situações que poderiam ser de um futuro perfeito. Cria diálogos.
Entra no ônibus.
Olha através da janela o mundo, sente-se parte dele. Sorri a toa. Chega ao seu
destino. Bate o ponto. Senta em frente ao computador. Olha para sua área de
trabalho pensando em tudo menos no que tem que fazer. Fala pouco. Pensa muito.
Planeja e imagina constantemente. Torna o relógio o ponto fixo do seu olhar.
Rói as unhas. Brinca com a caneta. Hora do almoço. Todos conversam a toa ao seu
redor. Brincam. Discutem. Defendem suas teses conspiratórias e reclamam das
contas. Ele come rápido. Olha para o celular. Nenhuma ligação. Volta para a sua
sala.
Uma hora passa, a outra se arrasta, a última hora faz charme, mas
finalmente chega. Pega suas coisas. Dá tchau para as pessoas com gestos. Ele
não gosta de falar demais. Liga seu player. Se sente bem. Sua hora favorita.
Vai ao parque. Senta-se na grama. Pega seu caderno, tenta escrever algo, mas
acaba desenhando coisas desconexas. Seu celular toca. Um sorriso no seu rosto.
Ele sai dali, tem que ir para a aula agora. Caminha, olhando ao seu redor.
Chega. Fala com todos que lhe interessam. Não recebe o “oi” que queria, tem um
leve desânimo, então pensa em coisas boas e prossegue. As horas injustamente voam.
Ele sorri com os outros que pensam como ele ali naquela noite, que não tinha
nada de especial, mas que tinha tudo de única. Seu ônibus chega, ele se
despede. Faz questão de sentar perto da janela, gosta de ver o movimento,
as luzes da noite e como elas se encaixam harmoniosamente na sua lista de
músicas. Mais uma viagem através de pensamentos e lembranças reais e
inventadas. Chega a sua casa. Beija a sua mãe que dorme. Só se preocupa em
tirar o excesso de roupas. Deita-se, e mesmo cansado está ansioso para os próximos
dias igualmente desconhecidos que virão.
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